Meu relógio quebrou ou o futuro atrasou?


Direto ao ponto

Para quem tem preguiça de ler

  1. O profeta do óbvio
    Como antevi, sem muita genialidade, a chegada do COVID-19 em nosso país.
  2. Alguém viu onde as crianças estão?
    Como errei ao confiar na competência da escola.
  3. Caindo na real
    Como a escola nos falhou, visto de casa.
  4. Possível anatomia das mazelas educacionais
    Faço alguns palpites sobre o que acho ser os erros instalados em nosso sistema educacional.
  5. Enfim…
    Tento fazer algumas conclusões caseiras sobre o tema.
  6. Mas estou digredindo…
    Anuncio, meio incrédulo, uma tentativa de propor uma solução ‘na faixa’ para realizar aulas online.

O profeta do óbvio

No final de dezembro de 2019 eu assistia na tv sobre uma nova doença que surgia na China e como “de médico e louco todo mundo tem um pouco”, eu profetizei:

— Mulher — é assim que chamo minhas esposa, feito marido de piada — Mulher, esse treco vai chegar aqui! Escreva o que estou te dizendo!

Daí sintonizei minhas antenas na evolução da doença lá na China e, diante do espalhamento rápido, fiz algumas contas levando em consideração o terrível hábito de governos mentirem, elevei à quinta potência pois o governo em questão era comunista e a série histórica de acobertamentos, mentiras e desculpas esfarrapadas de governos comunistas é impecável e insuperável, chegando a conclusão de que a coisa extravasaria as fronteiras chinesas e se espalharia mundo afora. Foi quando comecei a bancar o “Arauto do Apocalipse” dentro dos meios familiares, que na altura já chegavam a um consenso de que eu havia enlouquecido de vez.

Dentro de casa, bradava para a senhora do meu coração que precisávamos fazer um estoque suficiente de víveres para o mínimo de um mês e a pobrezinha ainda ouvia horas de palestra sobre como o fim do mundo, como nós o conhecíamos, estava próximo. Depois de muito ouvir, e convencida pelos ventos da mudança que já sopravam uma leve brisa em paisagens ocidentais, ela resolveu, talvez “pelo sim ou pelo não”, aderir aos preparativos que propunha. Cerca de 2 semanas antes da doença “virar realidade” aqui no Brasil, estávamos prontos. Me senti um daqueles malucos que construíam bunkers em seus quintais dos EUA na Guerra Fria.

Eu, um sujeito comum até demais, já havia se preparado como podia para o viria adiante. Vamos dar uma olhada como a uma grande instituição escolar se virava.

Alguém viu onde as crianças estão?

Alguns serviços aqui citados

Coisas que a escola poderia estar usando desde o início
  1. Google for Education: Grupo de aplicativos da Google, integrados para maior facilidade de administração.
    1. Google Forms: Aplicativo da Google para fazer formulários para pesquisa ou até formulários que se comportem como avaliações escolares.
    2. Google Meet: Aplicativo para realizar reuniões em áudio e vídeo com várias pessoas ao mesmo tempo, além de controlar os horários e assuntos destas (como aulas de cada matéria, por exemplo)
    3. Google Docs: Contém aplicativos para edição de texto, planilhas e apresentações. Os arquivos gerados podem ser editados em conjunto e facilmente compartilhados (bom para trabalhos individuais, em grupo e entregas ao professor)
    4. Google Drive: Drive na nuvem para o armazenamento de qualquer tipo de arquivo e seu compartilhamento.
    5. Google Groups: Aplicativo para fazer fóruns de discussão, ótimo para se tirar dúvidas e desenvolver trabalhos.
  2. OBS Studio: Aplicativo para produzir vídeos com captura da tela do computador, câmera, aplicativos, efeitos, etc.
  3. Serviços contratáveis para educação na internet
    1. Blackboard: Ambiente virtual especialmente desenhado para educação na internet.
    2. Canvas: Ambiente virtual especialmente desenhado para educação na internet atualmente utilizado pela PUC-MG.
  4. Aplicativos vários para reuniões em áudio e vídeo:
    1. Whereby:
    2. Zoom:
    3. Google Hangout:
    4. Skype:

Me toquei, porém, que não amarrara todas as pontas. Me lembrei na semana anterior à quarentena, que meus filhos iriam ficar sem escola e que teriam seu ano escolar prejudicado se não tomasse providências. Com parentes residindo em Portugal, sabia que as escolas europeias estavam dando aulas online, e que haviam tomado toda providência para que nada se perdesse durante a quarentena. Meus sobrinhos (5 e 9 anos) começavam as aulas cedinho e iam até perto da hora do almoço nos estudos em salas de chat de vídeo, tudo funcionando muito bem. Pensei:

— Hum… Será que devo ir à escola dos meus filhos e oferecer meus préstimos para organizar uma estrutura para se ministrar as aulas pela internet?

Aí… foi aí que eu cometi “O ERRO”. Sabe AQUELE ERRO que não parece ser muito grande mas que põe tudo a perder? Eu pensei:

— Ah, a escola dos meus filhos foi recentemente incorporada por uma grande rede de ensino… Quem sou eu para ir ensinar para os profissionais dessa grande instituição, coisas tão pedestres como, usar o Google Form para ministrar provas, usar o Google Meet para marcar as aulas, usar um OBS Studio ou mesmo um celular para gravar as aulas, usar aplicativos de comunicação (Zoom, WhereBy, Hangout, Skype, etc) para encontros ao vivo, registrar as aulas em vídeo para conferência posterior, registrar presença de alunos por chamada oral via whatsapp (ou por texto, ou por form, etc), sei lá…

Nem passou pela minha cabeça que a instituição devesse necessariamente gastar dinheiro e contratar serviços como o Google Meet Education (que é bem barato, pelo que faz), Blackboard (que é uma solução nacional e que conhece bem as demandas canarinhas) ou Canvas (que tem um sistema completo e que está sendo usado no momento pela PUC-MG). Não, achava que a escola deveria fazer escolhas simples, idealmente gratuitas e eficientes, pois entendia que a situação a ser resolvida poderia ser curta demais para se assumir compromissos duradouros. Era uma simples questão de “apagar incêndio”.

Pois é… Com receio de passar o ridículo de ser acusado de ensinar padre a rezar missa , além da convicção da competência à toda prova na grande instituição que fagocitou a escola dos meu filhos, eu acabei não indo lá. O resultado? A tal organização se mostrou super eficiente em não perder tempo… No quesito, “enviar o boleto de cobrança”… O resto, foi uma piada.

Caindo na real

Minha mulher, indignada, com razão, repetia:

— para que serve o laboratório de informática que eles tanto gostam de mostrar? Eles não sabem lidar com a tecnologia, como pretendem ensiná-la aos nossos filhos? E tem mais! Quantas vezes eles vieram nos dizer que o celular era um objeto que veio para ficar, com inúmeros benefícios e que a escola e as crianças muito se beneficiariam com o entendimento do uso racional dessa ferramenta, e blá, blá, blá…

Pois é, num mundo onde adolescentes impúberes ficam milionários produzindo vídeos dos seus quartos, é triste ver um bando de adultos experientes se ver impotente diante de uma tecnologia que ninguém pode considerar novidade mais. A escola, parecendo crer que a quarentena era um “fogo de palha” que passaria em uma ou duas semanas, tomou providências nulas a princípio, depois, quando se deu conta do erro de cálculo inicial, providências pífias e, talvez considerando que não estava chegando a lugar algum, por fim jogou a toalha, sem adimití-lo, claro, pois não é louca de se entregar à inadimplência que se seguiria à percepção das trapalhadas. Meus filhos ficaram sem aula, sem férias, sem poder visitar amigos, ou seja, ficaram num limbo. O que eles tem é uma série de video sem contabilização de presença, sem provas, sem meio de sanar dúvidas… Enfim, eles tem um material que se encontra à vontade no youtube, grátis, só que melhor produzido para maior efeito didático.

Possível anatomia das mazelas educacionais

A internet dos nossos filhos

A ‘internetação’ desenvolta infanto-juvenil

Procure conhecer e se pergunte quem é mais incapaz de lidar com a internet, você ou seu filho: Discord, Steam, Instagram, Twitter, Netflix, Primevideo, Youtube, Twitch, Pinterest, CifraClub, Github, etc.

Parece banal, mas cada um desse serviços tem suas características e sua forma de mexer. A molecada não só aprende a lidar com toda e qualquer ferramenta tecnológica, como tem grande interesse por aprender cada vez mais.

É a tempestade perfeita… A escola afirma sua importância na instrução, diz que é importante a criança frenquentá-la fisicamente pois de outra forma certamente se tornará alienada, socialmente embotada ou mesmo algum tipo de sociopata. A escola é a solução! A escola física, a escola que exige a presença da criança, a fim de salvá-la dos terríveis males do afastamento social. Daí, quando por um golpe do destino o afastamento social se torna mandatório, se torna óbvio que a molecada está, apesar da distância, ainda mais que ligada à seus amigos, jogando games online com 5, 8, 10 amigos de uma vez, conversando o dia inteiro, sem parar, com seus colegas de sala, ou seja, junto do seu círculo social apesar da distância… Apesar do abandono atabalhoado da escola. Meu filho de 12 anos instalou e usou diversos programas de comunicação, como o WhereBy, Discord, a parte social da Steam, WhatsApp, Google Drive, etc, para se divertir. Minha filha de 14, ligada umbilicalmente ao Instagram, Twitter, WhatsApp, Gmail, pesquisa e descobre meios de assistir suas séries favoritas que não estão em exibição no Netflix ou no Primevideo (não temos TV aberta ou a cabo em casa). Ensinei-os, em 30 minutos, como se fazia uma pequena wiki onde registrávamos os estudos diários (quando ainda me iludia de que a escola viria ao nosso socorro de maneira razoável), e eles alimentavam essa wiki sozinhos, de texto e imagem, e as remetiam sozinhos para o Github Page deles (algo que eu considero bem advance para a idade deles). Enquanto isso, a Escola estava se matriculando num cursinho de “Microsoft Office” e “Como usar o WhatsApp”.

Diante disso, os pais, que destinam grandes somas de dinheiro para a educação de seus filhos, começam a ter a nítida impressão de que foram enganados pela escola. O pai, que atravessa a cidade de manhã para levar seu filho à escola que, não raro, leva 50% ou mais da renda da família , percebe que tem sido iludido em alguns aspectos sobre a escola. A escola é importante, diria até fundamental, mas é igualmente importante perceber que “escola” é um termo mais amplo do que nos permitem enxergar normalmente.

Não é um absurdo?

É difícil de acreditar, mas aconteceu mesmo

Um amigo do meu filho, tendo repetido o ano, teve que comprar novamente os livros didáticos sob a alegação de que estes haviam mudado significativamente de uma ano para o outro. A mudança, porém, parece ter sido tão microscópica que custaria ao menino apenas anotar algumas coisas à mão, se necessário. Não teve jeito, o menino teve que comprar novamente os livros que, na prática, já tinha.

Por histórias como essas, sou levado à acreditar que as escolas ganham com a venda dos livros, o que em si não tem nada demais, mas talvez provável dependência dessa prática esteja além do razoável do que se espera de uma instituição que ensine com o auxílio de livros e não propriamente se auxilie com os livros que ensina (se é que me entende).

Isso me causa aquele estranhamento que sentimos ao perceber que na verdade lojas como as Casas Bahia estão mais no negócio de vender crédito que no de vender móveis e eletrodomésticos.

Procurando respostas, caminhando por fóruns de internet, por vídeos de canais de Youtube especializados em pedagogia ou até mesmo conversando com profissionais da área, o que se torna patente, na minha opinião, é que o grande fantasma da quarentena para as escolas é a possível descoberta pelos pais de que há algo errado e desonestamente rígido na relação da escola com sua família. Não digo dos preços escorchantes, das matérias inúteis, muitas vezes empurradas pelo próprio MEC, da infraestrutura “para inglês ver”, das salas superpopuladas, do descaso quase hippie com a disciplina (recordada por muitos pais como aspecto fundamental de sua formação) ou mesmo da descarada venda casada de material didático, área dominada por uma dúzia de empresas que impedem que se o professor “monte” suas aulas sobre um livro didático de sua escolha, engessando-o a um sistema didático monolítico, pré-fabricado, cheio de erros e, não raro, flashes ideológicos estranhos ao convívio saudável da família com a escola.

O que a escola talvez não queira que você descubra, com o conluio de sindicatos e, pelo que pude testemunhar em fóruns, até de professores, é que a presença física do aluno na escola não é fundamental para o seu aprendizado. Acompanhando isso, a escola não quer que você saiba que seu material didático não é melhor que o da escola ao lado, é até mediocremente semelhante, mas que ao descartar obras como Gramática de Domingos Paschoal Cegalla ou Matemática de Giovanni e Bonjorno, ela possibilita concentrar os ganhos totais sobre o material didático, o que não teria nada demais necessariamente, se não fosse obrigado a compra de um novo material todo ano, sem a possibilidade, por exemplo, de se adquirir o material usado do ano anterior de um colega mais adiantado (prática muito salutar e tradicional em nosso país). Não sei como não acusam essas escolas colossais de “venda casada”. A escola talvez não queira que você descubra que aquelas aulas vespertinas que elas inventaram, principalmente depois que o governo veio com os tais 200 dias letivos (protamente descartados à cada greve de 90 dias da categoria nas escolas públicas), poderiam muito bem ser distribuídas, na melhor das hipóteses, pelos outros dias, no turno matutino, poupando os pais de ter que voltar correndo com os filhos do almoço, poupando 17% de combustível, poupando a preocupação pelos filhos que são obrigados a almoçar perto da escola pela impossibilidade do pai gastar tempo e deslocamento para tal coisa.

Sei que há quem goste de cada um desses aspectos que, sinceramente, me incomodam. Sei que existem pais que prefeririam ver seus filhos num regime integral de aulas, como o dos EUA, pela absoluta necessidade imposta pelo trabalho. Defendo que haja um mundo de serviços desse tipo para vocês, e que isso seja justamente pago e justamente entregue. Não quero transformar isso em uma questão de “eu quero… me dá…”

Resumindo bastante: A Escola, a mim, não parece que quer ensinar à distância pois precisa de menos professores, de um sistema ligeiramente diferente de avaliação de desenvolvimento e, importante ressaltar isso, torna aqueles amontoados de papéis que eles chamam de livro didático obsoletos em sua materialidade.

Num mundo com aulas a distância (o consagrado EAD) você precisa de alguns poucos professores principais, aqueles que vão dar as aulas, estes têm que ter uma pequena equipe que lhes ajudem a avaliar o desenvolvimento dos vários alunos, concentrando assim as dúvidas de cada um em aulas corretivas. Nesse mundo, a avaliação automatizada e constante localiza com exatidão as fraquezas e forças dos alunos que discutem, em foruns moderados, como sanar suas dúvidas (mas estarei eu descrevendo algo como a Khan Academy? Talvez…).

Enfim…

Na teoria e na prática

Adoro ecologia, mas não mexa na venda das apostilas

Já faz alguns anos. Minha filha veio com um trabalho escolar em que a professora pedia soluções para se causar menos impacto no meio ambiente. Como já trabalhei com silvicultura para produção de papel, resolvi fazer uns cálculos comparativos sobre a pegada de carbono de um Kindle, durante toda sua vida útil, e de livros escolares durante esse mesmo período. Adivinha que é mais ecológico? O Kindle.

A escola podia dar uma ajudinha ao meio ambiente também, né? Ajuda a gente a produzir menos CO2, escola, vamos ensinar alunos em casa, por favor!

O que quero dizer é:

  1. Existem estudos e indícios de que a escola presencial não é determinante para se formar um bom aluno. É uma tolice sem tamanho o argumento sobre a “vida social” formada em uma escola, vá por mim e compre cotas de um clube pois é mais divertido e mais barato que pagar escola para menino brincar 20 minutos no recreio.
  2. É caro se deslocar até a escola, é estressante e perfeitamente evitável.
  3. Material didático impresso é tolice , é absurdamente pesado, é estático e é muito mais caro do que comprar um kindle (R$350,00 no momento da redação deste texto) e empanturrar o aparelho de todo e qualquer livro didático de toda língua que se pode imaginar (com procura rápida, dicionário, anotações na nuvem e compartilhamento instantâneo). Muito melhor seria manter um repositório de textos didáticos divididos por tópicos e o professor “montar” o livro que quizesse, as questões que quizesse e o livro fosse grátis, para todo o Brasil, para todo mundo. Se a wikipédia é grátis, porque não ter livros didáticos grátis e certificados comunitariamente? (eu sei que isso é um sonho, mas não custa nada trazer isso para o Brasil, pois já existe lá fora). Seria lindo ver meus filhos pegando 1 caderno de 500g e um kindle de 161g para ir para a aula, e seria 4 vezes mais barato que o material, geralmente subutilizado, que pago todos os anos.
  4. A escola que seguisse por esse caminho entregaria educação para muito mais pessoas, por menor preço e, considerando a escala, ganhando mais.

Sei das dificuldades impostas em nossa legislação contra isso, mas se não correrem atrás disso agora, vão perder uma chance de ouro de saírem na frente. Já venho ouvindo de pais que estão inclinados a cancelar a matrícula de seus filhos e matriculá-los e uma escola internacional especializada em Home Schooling (eu me incluo nesse grupo, aliás). Escolas como a Clonlara fornecem tudo, material, didática e convívio (dentro do seu esquema) para a educação da criança com o auxílio dos pais ou tutores. Diante do que as escolas estão oferecendo nessa quarentena e encarando a chance de ver meus filhos simplesmente tomarei “bomba por Covid-19”, estou cada vez mais tomando coragem de inscrevê-los em algo do gênero e correr o risco de descobrir que talvez seja uma escolha muito boa.

Mas estou digredindo…

Eu me disponibilizei para sugerir algum tipo de solução para a escola dar aulas pela internet (sem muita esperança de chegar à algum lugar, devo dizer).

Isso eu farei nesse post

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